sábado, 15 de janeiro de 2011

A Quimera da Felicidade


(...) do alto de uma montanha, inclinei os olhos a uma das vertentes, e contemplei, durante um tempo largo, ao longe, através de um nevoeiro, uma cousa única. Imagina tu, leitor, uma redução dos séculos, e um desfilar de todos eles, as raças todas, todas as paixões, o tumulto dos impérios, a guerra dos apetites e dos ódios, a destruição recíproca dos seres e das cousas. Tal era o espectáculo, acerbo e curioso espectáculo. A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade que não lhe podiam dar nem a imaginação nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginação mais vaga, enquanto que o que eu ali via era a condensação viva de todos os tempos. Para descrevê-la seria preciso fixar o relâmpago. Os séculos desfilavam num turbilhão, e, não obstante, porque os olhos do delírio são outros, eu via tudo o que passava diante de mim, - flagelos e delícias, - desde essa cousa que se chama glória até essa outra que se chama miséria, e via o amor multiplicando a miséria, e via a miséria agravando a debilidade. Aí vinham a cobiça que devora, a cólera que inflama, a inveja que baba, e a enxada e a pena, úmidas de suor, e a ambição, a fome, a vaidade, a melancolia, a riqueza, o amor, e todos agitavam o homem, como um chocalho, até destruí-lo, como um farrapo. Eram as formas várias de um mal, que ora mordia a víscera, ora mordia o pensamento, e passeava eternamente as suas vestes de arlequim, em derredor da espécie humana. A dor cedia alguma vez, mas cedia à indiferença, que era um sono sem sonhos, ou ao prazer, que era uma dor bastarda. Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das cousas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura, - nada menos que a quimera da felicidade, - ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão.

Machado de Assis, in 'Memórias Póstumas de Brás Cubas'

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Livro - Historia Mundial Do Teatro


Como milhões de mulheres, Laura Doyle queria melhorar seu casamento.Ao tentar tornar seu marido mais romântico, prestativo e ambicioso, percebeu que ele acabou se recolhendo e ela ficou ainda mais solitária e exausta por ter de assumir o controle de tudo. Ansiosa por trazer o marido de volta à vida a dois, decidiu parar de lhe dizer o que e como fazer. ¿Quando eu decidi não mais tentar controlar a forma com que John fazia as coisas e comecei a confiar nele, passei a experimentar o casamento com o qual eu sempre tinha sonhado, e o homem que havia me conquistado estava de volta¿, disse ela. Laura percebeu que as mulheres não deveriam tentar mandar em seus maridos e que esta postura de comando repetia o modelo materno vivenciado pelos homens durante toda a infância, gerando uma grande rejeição na idade adulta. Com Sim, Querido, a autora quer fazer com que cada cônjuge seja, realmente, um ¿outro significativo¿ no casal e ensina que ceder não é sinônimo de submissão. Este livro mostrará às mulheres como transformar um casamento solitário em uma união apaixonada. Este livro oferece às leitoras um guia seguro, ensinando o segredo da felicidade conjugal: abrir mão do controle e responsabilidade desnecessários, resistir à tentação de criticar, diminuir ou menosprezar

domingo, 9 de janeiro de 2011

Soneto do Epitáfio, Bocage

Lá quando em mim perder a humanidade
Mais um daqueles, que não fazem falta,
Verbi-gratia — o teólogo,o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde, ou frade:


Não quero funeral comunidade,
Que engrole "sub-venites" em voz alta;
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade:


Mas quando ferrugenta enxada idosa
Sepulcro me cavar em ermo outeiro,
Lavre-me este epitáfio mão piedosa:


"Aqui dorme Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada, e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu sem ter dinheiro".