sábado, 27 de setembro de 2008

Liberdade


Encontro de Blogues/ Semanario Sol/ Set 2008 Sabrosa/S.Martinho de Anta
MIGUEL TORGA

(Poeta e prosador - 1907-1995)
EU, PECADOR, ME CONFESSO DE SER CHARCO E LUAR DE CHARCO, À MISTURA...

1907: Nasce Adolfo Correia da Rocha em S. Martinho de Anta (distrito de Vila Real). - 1920: Emigra para o Brasil. - 1925: Regressa do Brasil. - 1927: Fundação da "Presença" em que colabora desde o começo. - 1928: Ingressa na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra; Ansiedade, primeiro livro, poesia. - 1930: Deixa a "Presença". - 1931: Pão Ázimo, primeiro livro em prosa. - 1933: Formatura em Medicina. - 1934: A Terceira Voz, prosa; passa a usar o pseudónimo Miguel Torga. - 1936: O outro livro de Job, poesia. - 1937: A Criação do Mundo - Os dois primeiros dias. - 1939: Abertura do consultório médico, em Coimbra. - 1940: Os Bichos. - 1941: Primeiro volume do Diário; Contos da Montanha, que será reeditado no Rio de Janeiro; Terra firme, Mar, primeira obra de teatro. - 1944: Novos Contos da Montanha; Libertação (poesia). - 1945: Vindima, o primeiro romance. - 1947: Sinfonia (teatro). - 1950: Cântico do Homem (poesia); Portugal. - 1954: Penas do Purgatório (poesia) - 1958: Orfeu Rebelde, poesia. - 1965: Poemas Ibéricos. - 1981: Último volume de A Criação do Mundo. - 1993: Último volume do Diário (XVI). - 1995: Morre Adolfo Correia da Rocha.


São Leonardo da Galafura


À proa dum navio de penedos,
A navegar num doce mar de mosto,
Capitão no seu posto
De comando,
S. Leonardo vai sulcando
As ondas
Da eternidade,
Sem pressa de chegar ao seu destino.
Ancorado e feliz no cais humano,
É num antecipado desengano
Que ruma em drecção ao cais divino.

Lá não terá socalcos
Nem vinhedos
Na menina dos olhos deslumbrados;
Doiros desaguados
Serão charcos de luz
Envelhecida;
Rasos, todos os montes
Deixarão prolongar os horizontes
Até onde se extinga a cor da vida.
Por isso, é devagar que se aproxima
Da bem-aventurança.
É lentamente que o rabelo avança
Debaixo dos seus pés de marinheiro.
E cada hora a mais que gasta no caminho
É um sorvo a mais de cheiro
A terra e a rosmaninho





LIBERDADE


– Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre nosso que sabia
A pedir-te, humildemente,
O pão de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

– Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
– Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga


Encontro de Blogues
Semanario Sol Set 2008 Sabrosa/S.Martinho de Anta

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

O Que Diz A Morte (Antero de Quental)

Deixai-os vir a mim, os que lidaram;
Deixai-os vir a mim, os que padecem;
E os que cheios de mágoa e tédio encaram
As próprias obras vãs, de que escarnecem...
Em mim, os sofrimentos que não saram,
Paixão, dúvida e mal, se desvanecem.
As torrentes da dor, que nunca param,
Como num mar, em mim desaparecem.
Assim a Morte diz. Verbo velado,
Silencioso intérprete sagrado
Das cousas invisíveis, muda e fria,
É, na sua mudez, mais retumbante
Que o clamoroso mar; mais rutilante,
Na sua noite, do que a luz do dia.

Nocturno (Antero de Quental)

Espírito que passas, quando o vento
Adormece no mar e surge a Lua,
Filho esquivo da noite que flutua,
Tu só entendes bem o meu tormento...
Como um canto longínquo - triste e lento-
Que voga e subtilmente se insinua,
Sobre o meu coração que tumultua,
Tu vestes pouco a pouco o esquecimento...
A ti confio o sonho em que me leva
Um instinto de luz, rompendo a treva,
Buscando. entre visões, o eterno Bem.
E tu entendes o meu mal sem nome,
A febre de Ideal, que me consome,
Tu só, Génio da Noite, e mais ninguém!

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

A oração que eu esqueci


De Paulo Coelho

Eis a oração:

Senhor, protegei as nossas dúvidas, porque a Dúvida é uma maneira de rezar. É ela que nos fazem crescer, porque nos obriga a olhar sem medo para as muitas respostas de uma mesma pergunta. E para que isto seja possível,

Senhor, protegei as nossas decisões, porque a Decisão é uma maneira de rezar. Dai-nos coragem para, depois da dúvida, sermos capazes de escolher entre um caminho e o outro. Que o nosso SIM seja sempre um SIM, e o nosso NÃO seja sempre um NÃO. Que uma vez escolhido o caminho, jamais olhemos para trás, nem deixemos que nossa alma seja roída pelo remorso. E para que isto seja possível,

Senhor, protegei as nossas ações, porque a Ação é uma maneira de rezar. Fazei com que o pão nosso de cada dia seja fruto do melhor que levamos dentro de nós mesmos. Que possamos, através do trabalho e da Ação, compartilhar um pouco do amor que recebemos. E para que isto seja possível,

Senhor protegei os nossos sonhos, porque o Sonho é uma maneira de rezar. Fazei com que, independente de nossa idade ou de nossa circunstância, sejamos capazes de manter acesa no coração a chama sagrada da esperança e da perseverança. E para que isto seja possível,

Senhor, dai-nos sempre entusiasmo, porque o Entusiasmo é uma maneira de rezar. É ele que nos liga aos Céus e a Terra, aos homens e as crianças, e nos diz que o desejo é importante, e merece o nosso esforço. É ele que nos afirma que tudo é possível, desde que estejamos totalmente comprometidos com o que fazermos. E para que isto seja possível,

Senhor, protegei-nos, porque a Vida é a única maneira que temos para manifestar o Teu milagre. Que a terra continue transformando a semente em trigo, que nós continuemos transmutando o trigo em pão. E isto só é possível se tivermos Amor - portanto, nunca nos deixe em solidão. Dai-nos sempre a tua companhia, e a companhia de homens e mulheres que tem dúvidas, agem, sonham, se entusiasmam, e vivem como se cada dia fosse totalmente dedicada a Tua glória. Amem.
Texto de Paulo Coelho

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Conceitos desconhecidos em Arte


SUPREMATISMO: Nome dado pelo pintor russo Malevitch à abstracção geométrica, em 1913, com manifesto assinado por ele e o poeta Maiakovski em 1915, o qual defendia a supremacia da
sensibilidade sobre o objecto e sobre os elementos da natureza. As obras
suprematistas eram elaboradas a partir das figuras geométricas: quadrado,
rectângulo, triângulo e círculo e, ainda, a partir da forma da cruz. Em 1915, Malevitch atingiu o
ponto máximo de simplicidade da estética suprematista, com a obra
"Quadrado branco sobre fundo branco", chegando, assim, aos limites
extremos da arte abstrata. As obras de Malevitch estão carregadas de espiritualidade, silêncio, leveza e desmaterialização, aproximando-se do sagrado.
RAIONISMO: Movimento estético criado por Larionov em 1911-1912 (Moscou), cujo manifesto de 1913 propõe a utilização de raios de cores paralelos ou em sentido contrário, dando a impressão de deslizar para fora do tempo e do espaço. As obras raionistas de Larionov e Gontcharova situam-se entre as primeiras pinturas abstratas do século XX.
NEO PLASTICISMO: Neoplasticismo é o termo criado pelo artista holandês Piet Mondrian para uma arte abstrata e geométrica. Segundo o artista, a arte deve ser desnaturalizada e liberta de toda referência figurativa ou de detalhes individuais de objetos naturais.
Assim, Mondrian restringiu os elementos de composição pictórica à linha reta,
ao retângulo e às cores primárias, azul, amarelo e vermelho, aos tons de cinza,
preto e branco. Mondrian fundou, com Theo Van Doesburg a revista De Stijl, publicada de 1917 a 1928, onde publicou os textos sobre o neo-plasticismo, sendo um deles ''Realidade Natural e Realidade Abstrata", um ensaio fundamental para o Abstracionismo 2º fase.
Esta pintura representa um modelo exemplar da harmonia universal ou verdadeira
beleza, a medida da evolução humana por um ambiente total que pudesse viver em
harmonia. NOVA OBJECTIVIDADE: Dentro do clima da arte figurativa, entre as duas guerras mundiais, a terceira onda do Expressionismo Alemão concretiza-se com o grupo Nova Objetividade / Neue Sachlichkeit. O nome foi cunhado, em 1923, por Felix Hartlaub, diretor da
Kunsthalle de Mannheim. A situação da Alemanha após a Primeira Guerra deu à sua
arte tons políticos mais acentuados que o das primeiras ondas do
Expressionismo. Entrou em confronto com a maré política favorável à
centralização e fortalecimento do poder do Estado, prenunciadora do Nazismo. Seria
este o elemento devastador do movimento. Com a ascensão de Hitler ao poder em
1933, houve a conseqüente queima das obras e a dispersão de seus artistas. A
exposição em Berlim que fundou o grupo, no ano de 1923, pretendia apresentar
trabalhos de artistas interessados pela crítica do cotidiano, do banal e, acima
de tudo, da situação política da Alemanha no entre-guerras. Otto Dix, George
Grosz, Max Beckman e George Scholz foram os principais artistas do grupo.
Apesar de variações entre seus trabalhos, queriam apresentar uma imagem crua da
sociedade alemã depois da guerra de 1914.
ULTRAÍSMO: Movimento poético de vanguarda que surgiu a partir das reuniões organizadas por Rafael Cansinos-Assens, no Café Colonial de Madri, no final de 1918. O ultraísmo foi
uma reação à monotonia dos adeptos domodernismo de Rubén Darío.
O ultraísta Guillermo de Torre definiu=o “como uma violenta reação à era de Rubén Darío e sua conseqüente série de poetas fáceis, que tinham chegado a formar um caráter
híbrido e confuso, uma espécie de bijuteria poética, um produto para as
revistas burguesas”. Jorge Luis Borges tinha opinião semelhante, mas no
entanto, acabará renegando suas origens ultraístas.
Além disso, a passagem do poeta chileno Vicente Huidobro e sua defesa do criacionismo por sua gestação foi um aspecto importante. O movimento se difundiu através de revistas, como
Los Quijotes, Grecia, Cervantes, Ultra, Cosmópolis, Horizonte, Vértices, entre
outras. Além dos antecedentes espanhóis, como Ramón Gómez de la Serna e Juan Ramón
Jiménez, é importante ressaltar a relação do ultraísmo com os movimentos de
vanguarda contemporâneos: o futurismo, o cubismo e o dadaísmo.
A “imagem múltipla”, que supõe a identificação mais plena entre a poesia e a música, a condensação metafórica (ver Figuras de linguagem), a eliminação de conexões inúteis, o
avanço da “imagem reflectida ou simples”, de acordo com os comentários de
Gerardo Diego, e o valor plástico da disposição tipográfica, herança direta dos
caligramas de Apollinaire são aspectos fundamentais do ultraísmo. Além dos já
citados, os poetas ultraístas mais notórios foram Juan Larrea, Pedro Garfias,
Adriano del Valle, Eugenio Montes, José Rivas Panedas, Rafael Lasso de la Vega,
Isaac del Vando-Villar, entre outros.
O movimento se dissolveu com o fim da publicação da revista Ultra na primavera de 1922. Dámaso Alonso, ainda que incisivo em sua crítica — “impossibilitado de dominar um ritmo novo, evitou todos os ritmos e lançou mão dos versos mais pobres” —, não deixa de reconhecer
que não é possível compreender a poesia posterior sem considerar o ultraísmo.
VORTICISMO: Movimento de vanguarda inglês fundado por WYNDHAM LEWIS em 1914.
O nome Vorticismo provém da observação do futurista italiano UMBERTO BOCCIONI de que toda arte criativa emana de um VÓRTICE emocional. Como o futurismo,o Vorticismo empregava um estilo severo,anguloso e altamente dinâmico,tanto na escultura como na
pintura,e tinha como objectivo captar a actividade e o movimento.
Embora o vorticismo não tenha sobrevivido å primeira Guerra Mundial, foi significativo por ser o primeiro movimento da arte inglesa na direcção da abstracção.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Que Deus te Bendiga


Tomara
Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais..."
Como Eu Quero Viver com Você....o Verdadeiro Amor..que Não Se Desfaz .....!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Vinicius de Moraes

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Ausência (Vinícius de Morais)


Ausência (Vinícius de Morais)

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar seus olhos que são doces...
Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres exausto...
No entanto a tua presença é qualquer coisa, como a luz e a vida...
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto...
E em minha voz, a tua voz...
Não te quero ter, pois em meu ser tudo estaria terminado...
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados...
Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada...
Que ficou em minha carne como uma nódoa do passado...
Eu deixarei...Tu irás e encostarás tua face em outra face...
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada...
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu...
porque eu fui o grande íntimo da noite...
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa...
Porque os meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
E eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém, porque poderei partir.
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas,
serão a tua voz presente, tua voz ausente, a tua voz serenizada...