Existem actores que apesar de sentirem os papeis profundamente e de os compreender com limpidez cristalina são incapazes de transmitir e expressar a uma plateia essa riqueza interior. Esses maravilhosos pensamentos e emoções ficam como que acorrentados nos seus corpos subdesenvolvidos. O processo de ensaiar e actuar é para eles uma batalha dolorosa contra a sua própria carne demasiado sólida, como disse Hamlet. Todo o Actor em menor ou maior grau sofre uma resistência ao seu corpo. Exercícios físicos são necessários para superar isso , mas devem basear-se em principios diferentes dos usados na maioria das escolas de Arte Dramática, o corpo de um actor deve passar por um tipo especial de desenvolvimento. A própria psicologia deve tomar parte desse desenvolvimento. O corpo de um actor deve absorver qualidades psicológicas, deve ser por elas impregnado de modo que o convertam gradualmente numa membrana sensitiva, numa espécie de receptor e condutor de imagens, sentimentos e emoções de extrema subtileza…
Sob a influência de conceitos materialistas o actor contemporâneo é constantemente por necessidade pura e simples induzido à prática perigosa de eliminar os elementos psicológicos da sua arte e de superestimar o significado do físico. Assim, à medida que se afunda cada vez mais nesse ambiente inartístico, o seu corpo torna-se cada vez menos animado, cada vez mais superficial, denso, e em alguns casos assemelha-se até a uma espécie de autómato da era mecanicista… os nossos corpos podem ser os nossos melhores amigos ou os nossos piores inimigos.
Fonte :: Michael Chekhov
Bom Ano Viva 2008
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