As Horas do Douro”, um filme que ilustra e conta a Região, ao ritmo das suas vinhas e dos seus vinhos. No passado dia 01 de Março, António Barreto deslocou-se ao El Corte Inglês de Vila Nova de Gaia para, falar da História do Douro e dos seus vinhos, em terras que descreveu como capazes de escrever “pergaminhos formidáveis da história do Douro”, a região que tanto ama e abraça, a ponto de estar a preparar um filme, intitulado “As Horas do Douro”, inspirado nos Livros de Horas Medievais, com a finalidade de “contar a região, que vive ao ritmo das suas vinhas e dos seus vinhos”.
.... Outros há que, na opinião do orador, na defesa de uma “modernidade sem inteligência”, se preparam para esquartejar e retalhar o Douro, fazendo-o atravessar de novas e rápidas auto-estradas.
São, também, alguns daqueles que Barreto classifica como os que, à procura de fortuna rápida, “tudo fariam para construir sem rei nem roque e para semear os socalcos de hotéis e divertimentos sem ordenamento”. Há, ainda, uma última classe, a do Poder Político que, na perspectiva do mesmo, está “disponível para deixar morrer o edifício institucional da região”, permitindo que desapareça também “a disciplina e a regra”. Ora, uma breve alusão ao Douro, que precisa de disciplina e regras, conforme veremos mais adiante.
Mas, falar do Douro, sem falar de vinho – especialmente do Vinho do Porto – não teria muita lógica, mesmo para a plateia que se deslocou até ao El Corte Inglês. Assim, António Barreto, abordou a Região numa vivência intrínseca, comandada, ao ritmo do vinho e da vinha.
Falando do Vinho do Porto enquanto produto natural (aquele para o qual a natureza deu especial contributo e que tem na sua constituição o código genético de uma região, da natureza, do clima, dos solos), exclusivo do Douro, António Barreto quis prestar uma honrosa homenagem aos Homens que, ao longo de décadas, souberam fazer esse produto. Um produto “feito pelo homens. E refeito. E rei ventado”, como o mesmo fez questão de frisar. Um produto que nasceu à custa da labuta “dos lavradores, dos Galegos, dos assalariados rurais, dos comerciantes, dos holandeses e dos ingleses”, de uma panóplia de gente tão vasta e diversa quanto o seu valor e reconhecimento: desde clientes que o beberam, técnicos e enólogos que o fizeram, políticos e autarcas, entre muitos e muitos outros que gastaram vidas a favor da conquista de dimensão do “néctar dos deuses”.
Mas o Douro mudou. Como, de resto, o mundo também mudou. Já Luís de Camões havia alertado para tal facto quando escreveu que “todo o mundo é composto de mudança”. Mas, o Douro, com maior incidência, mudou mais e de forma mais radical nas últimas décadas do século XX, conforme o constata o agrónomo duriense Nuno Magalhães, acarretando consigo “profundas alterações à história da região e do seu vinho”. Alterações de que género? A mecanização, a carência de mão-de-obra, a mudança na estrutura de custos, a introdução de novas técnicas de cultura da vinha, a transformação dos processos de tratamento fitossanitário, a generalização de novos métodos de vinificação, as novas regras de comércio que finalmente admitiram que os produtores pudessem engarrafar e exportar, o enorme investimento em propriedades por parte das grandes casas comerciais, por exemplo, são exemplos claros de mudanças que, segundo Barreto, operaram “uma das maiores revoluções no Douro de toda a sua história”.
Tiveram mérito – talvez mérito seja pouco para sublevar a acção do Homem no Douro – os Durienses que moldaram, como se de artesãos se tratasse, a “paisagem natural (...) humana e feita pelos homens”. “Do rio domesticado às encostas em socalcos, das quintas aos armazéns, dos caminhos aos lagares, das oliveiras à amendoeiras, dos muros aos patamares e à vinha ao alto, tudo é feito pelo homem. Tudo, no Douro, é humano”. Embalados pela mudança, mas com consciência e respeito pelo valor legado, os homens, no Douro, souberam “aproveitar o melhor” que a Natureza lhes deu, ao ponto de serem “capazes de corrigir e transformar, sem destruir”. Criou-se, assim, uma “nova paisagem, sem destruir a natureza”. Em jeito de tributo a todos os Duriense que, de uma maneira ou de outra, souberam construir o que hoje temos a “olhos vistos”, Barreto deixou uma palavra de elogio por terem sabido “fazer o moderno, sem delapidar a herança”. Além de que “souberam produzir vinho para o mundo inteiro, estar na vanguarda das técnicas, da qualidade e do comércio, sem arruinar a sua singularidade”, sendo os primeiros no “comércio europeu e na economia global, sem perder carácter”, numa região que, comparativamente com outras estava até “pouco calhada para fazer vinho” frisou o mesmo.E o que é que trouxe a mudança?!
A mudança impôs que se procurasse para a Região “novas soluções para a economia”. Foi dentro deste contexto que começaram, então, a surgir “novos produtores de vinhos de qualidade”. Foi com o «empurrão» da mudança que “novos vinhos são conhecidos”. Barreto referiu que surgiram e se aperfeiçoaram, ao longo dos anos, novas experiências promissoras na organização e na produção, que mostram que “as potencialidades do Douro não se esgotam nos vinhos”. A seu ver, agrónomos, enólogos, empresários e lavradores uniram esforços para “diversificar a região, alargar horizontes, plantar novas vinhas nas terras altas e criar, dentro do Douro, novas denominações”. Não raro, vemos renovar quintas e armazéns, criar casas de Turismo, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro têm saído centenas de enólogos que têm ajudado a trazer “ciência e técnica (...) mordidos pela vontade de fazer vinhos, colaboram com os lavradores (...)”.
Mas, toda esta mudança, descambou em desnorteio? Sabe a Região qual o norte a seguir? Toda a evolução foi desregrada? A que classe de tipificação pertenciam, na enumeração acima, aqueles que evoluíram a Região? A resposta é fácil e inequívoca: nada aconteceu por acaso, sem norte, sem regras, sem disciplina, cabendo os homens do Douro num largo mosaico cultural, que a disciplina soube nortear, levando-os a pensar, tal como Dirk Niepoort que “o mais importante, no vinho, é a paciência”. Barreto encontra, assim, as palavras-chave do discurso: paciência para o Vinho, disciplina para os Homens, de modo a desenvolver o Douro e a salvá-lo, como o “salvou em tempos de crise”. E, através de que sinais se tem manifestado a disciplina? Em que se traduziu? António Barreto, com a lucidez própria que o caracteriza, rebusca a História do Douro e, em toda elas, encontra actos disciplinadores.
Desde logo, na demarcação geográfica de 1756, operada por Marquês de Pombal, que Barreto considera “um gesto de autoridade, mas acto visionário”, até porque só os vinhos produzidos ali podem ostentar designações de Douro e Porto. Como “a defesas de um produto implica o seu carácter e este só se garante se estiver definida a sua origem e as suas características”, António Barreto opinou no sentido de olhar a demarcação como uma parte da disciplina e foi dizendo que o mesmo também se aplica na produção. Depois, considera que a disciplina também se fez sentir nas regras comerciais, com uma definição de produtos, de preços e de circuitos, bem como no estabelecimento de uma autoridade institucional, política e económica. Ouve, ainda, regras na associação entre o Estado, os produtores, os comerciantes e os interesses locai, que permitiu, a seu ver, “a perenidade da organização e acatamento, nem sempre pacífico, da disciplina imposta”.
Houve disciplina na delimitação da região, na enumeração dos produtores e propriedades, com respectivos cadastros, na definição de quantidades a produzir, de modo a “evitar as grandes crises de superprodução e de degradação dos preços” e, assim, surgiu o que vulgarmente se designa de “benefício”, segundo o qual se estabelece o montante anual de Vinho do Porto a produzir e as quantidades que cada lavrador pode produzir.
O léxico disciplina parece não mais esgotar-se, se centrado na História do Douro. Barreto realçou que, mesmo no estabelecimento de requisitos técnicos (como a proibição de adição de baga de sabugueiro para dar cor aos vinhos, a proibição de adubação e estrumação das vinhas, por exemplo, ou a obrigatoriedade e a recomendação de plantar certas castas) e na criação de órgãos e instituições capazes de garantir quer a autoridade pública, quer a representatividade dos lavradores e comerciantes, disciplina esteve presente ciclicamente. “Em todos os grandes ciclos da história portuguesa, do despotismo ao constitucionalismo, da monarquia liberal às tentativas de poder real duro, da república ao corporativismo, os poderes públicos interessaram-se seriamente pelo Douro”, organizando e disciplinando a Região. António Barreto fez questão de esclarecer que, mesmo em períodos mais liberais, “alguma disciplina existiu”.
Foram, pois, a disciplina e as regras que trouxeram até nós esta região e estes vinhos e que permitiu definir os produtos e as suas características.
Perante tal organização e disciplina, António Barreto lançou o desafio: seremos nós capazes de, em democracia, reorganizar, de actualizar, mas de manter uma disciplina condutora? Acatemos, pois, tal repto! Da sua magnífica intervenção no El Corte Inglês, que maravilhou o público presente, quais as conclusões a tirar? Em jeito de síntese, Barreto deixou bem vincado que “sem autoridade, sem disciplina, sem regras, não há Região Demarcada, não há origem denominada, não há produto típico e original (que tem características próprias, que tem carácter, que serve de referência, que é um padrão)”.
Na linha de pensamento de Barreto, as empresas e os lavradores têm feito, por eles próprios, muito do que antigamente se esperou das entidades públicas. E esse será o caminho a trilhar! Para os mais cépticos, Barreto diz que basta atentar nas “melhores notícias que chegam do Douro” e ver que as mesmas têm, geralmente, “os lavradores como protagonistas, não o Estado, nem as Instituições”.
Eis, a título exemplificativo, algumas dessa boas-novas: níveis de exportação interessantes; aumento dos vinhos de qualidade; projecção internacional dos vinhos de qualidade, tanto do Porto como do Douro; expansão de práticas mais rigorosas no cultivo das vinhas e no fabrico do vinho; crescimento dos produtores engarrafadores; a crescente fixação das empresas comerciais exportadoras, que adquiriam, já, quintas e vinhas; o Douro como Património Mundial.
Porém, ainda nem tudo são “rosas”... António Barreto finalizou o seu discurso, dando conta de aspectos menos positivos, lacunas que terão de ser (obrigatoriamente) corrigidas, sob pena de se enfraquecer este Douro, envolto do tal “espectro da mudança”.Assim, referente a aspectos críticos, temos:
a)O grau de concentração empresarial nos Vinhos do Porto. Cinco grupos representam 70% a 80% de todo o comércio;
b)O gradual desaparecimento de empresas portuguesas exportadoras de vinhos;
c)Os baixos preços praticados nos vinhos comuns de média e de baixa qualidade;
d)A existência de grandes massas de vinhos de qualidade deficiente;
e)A deficiente gestão e a difícil situação económica das adegas cooperativas e a, ainda, muito deficiente formação profissional e técnica dos pequenos lavradores e das adegas cooperativas;
f)A fraqueza da representação social dos lavradores do Douro, nomeadamente dos pequenos agricultores.
g)O aparente desinteresse das autoridades e dos governos;
Estas e outras lacunas, levam a que Barreto “aponte o dedo” às “responsabilidades das entidades públicas, seja como causa, sem como omissão de acção”. E, então, perante este cenário mais crítico, o que fazer? Arregaçar as mangas, certamente.
A receita para ultrapassar todos estes aspectos, que Barreto considera “críticos”, não a dá... Até por considerar não ser “seguramente quem mais sabe” . Mas, usando da diligência e da sapiência que o caracterizam, sente como crucial a “necessidade de as autoridades estabelecerem um novo contrato com o sector dos vinhos do Douro e do Porto”, que desenvolva “os interesses locais, as comunidades e as autarquias”. ( in notíciasdodouro )
.... Outros há que, na opinião do orador, na defesa de uma “modernidade sem inteligência”, se preparam para esquartejar e retalhar o Douro, fazendo-o atravessar de novas e rápidas auto-estradas.
São, também, alguns daqueles que Barreto classifica como os que, à procura de fortuna rápida, “tudo fariam para construir sem rei nem roque e para semear os socalcos de hotéis e divertimentos sem ordenamento”. Há, ainda, uma última classe, a do Poder Político que, na perspectiva do mesmo, está “disponível para deixar morrer o edifício institucional da região”, permitindo que desapareça também “a disciplina e a regra”. Ora, uma breve alusão ao Douro, que precisa de disciplina e regras, conforme veremos mais adiante.
Mas, falar do Douro, sem falar de vinho – especialmente do Vinho do Porto – não teria muita lógica, mesmo para a plateia que se deslocou até ao El Corte Inglês. Assim, António Barreto, abordou a Região numa vivência intrínseca, comandada, ao ritmo do vinho e da vinha.
Falando do Vinho do Porto enquanto produto natural (aquele para o qual a natureza deu especial contributo e que tem na sua constituição o código genético de uma região, da natureza, do clima, dos solos), exclusivo do Douro, António Barreto quis prestar uma honrosa homenagem aos Homens que, ao longo de décadas, souberam fazer esse produto. Um produto “feito pelo homens. E refeito. E rei ventado”, como o mesmo fez questão de frisar. Um produto que nasceu à custa da labuta “dos lavradores, dos Galegos, dos assalariados rurais, dos comerciantes, dos holandeses e dos ingleses”, de uma panóplia de gente tão vasta e diversa quanto o seu valor e reconhecimento: desde clientes que o beberam, técnicos e enólogos que o fizeram, políticos e autarcas, entre muitos e muitos outros que gastaram vidas a favor da conquista de dimensão do “néctar dos deuses”.
Mas o Douro mudou. Como, de resto, o mundo também mudou. Já Luís de Camões havia alertado para tal facto quando escreveu que “todo o mundo é composto de mudança”. Mas, o Douro, com maior incidência, mudou mais e de forma mais radical nas últimas décadas do século XX, conforme o constata o agrónomo duriense Nuno Magalhães, acarretando consigo “profundas alterações à história da região e do seu vinho”. Alterações de que género? A mecanização, a carência de mão-de-obra, a mudança na estrutura de custos, a introdução de novas técnicas de cultura da vinha, a transformação dos processos de tratamento fitossanitário, a generalização de novos métodos de vinificação, as novas regras de comércio que finalmente admitiram que os produtores pudessem engarrafar e exportar, o enorme investimento em propriedades por parte das grandes casas comerciais, por exemplo, são exemplos claros de mudanças que, segundo Barreto, operaram “uma das maiores revoluções no Douro de toda a sua história”.
Tiveram mérito – talvez mérito seja pouco para sublevar a acção do Homem no Douro – os Durienses que moldaram, como se de artesãos se tratasse, a “paisagem natural (...) humana e feita pelos homens”. “Do rio domesticado às encostas em socalcos, das quintas aos armazéns, dos caminhos aos lagares, das oliveiras à amendoeiras, dos muros aos patamares e à vinha ao alto, tudo é feito pelo homem. Tudo, no Douro, é humano”. Embalados pela mudança, mas com consciência e respeito pelo valor legado, os homens, no Douro, souberam “aproveitar o melhor” que a Natureza lhes deu, ao ponto de serem “capazes de corrigir e transformar, sem destruir”. Criou-se, assim, uma “nova paisagem, sem destruir a natureza”. Em jeito de tributo a todos os Duriense que, de uma maneira ou de outra, souberam construir o que hoje temos a “olhos vistos”, Barreto deixou uma palavra de elogio por terem sabido “fazer o moderno, sem delapidar a herança”. Além de que “souberam produzir vinho para o mundo inteiro, estar na vanguarda das técnicas, da qualidade e do comércio, sem arruinar a sua singularidade”, sendo os primeiros no “comércio europeu e na economia global, sem perder carácter”, numa região que, comparativamente com outras estava até “pouco calhada para fazer vinho” frisou o mesmo.E o que é que trouxe a mudança?!
A mudança impôs que se procurasse para a Região “novas soluções para a economia”. Foi dentro deste contexto que começaram, então, a surgir “novos produtores de vinhos de qualidade”. Foi com o «empurrão» da mudança que “novos vinhos são conhecidos”. Barreto referiu que surgiram e se aperfeiçoaram, ao longo dos anos, novas experiências promissoras na organização e na produção, que mostram que “as potencialidades do Douro não se esgotam nos vinhos”. A seu ver, agrónomos, enólogos, empresários e lavradores uniram esforços para “diversificar a região, alargar horizontes, plantar novas vinhas nas terras altas e criar, dentro do Douro, novas denominações”. Não raro, vemos renovar quintas e armazéns, criar casas de Turismo, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto-Douro têm saído centenas de enólogos que têm ajudado a trazer “ciência e técnica (...) mordidos pela vontade de fazer vinhos, colaboram com os lavradores (...)”.
Mas, toda esta mudança, descambou em desnorteio? Sabe a Região qual o norte a seguir? Toda a evolução foi desregrada? A que classe de tipificação pertenciam, na enumeração acima, aqueles que evoluíram a Região? A resposta é fácil e inequívoca: nada aconteceu por acaso, sem norte, sem regras, sem disciplina, cabendo os homens do Douro num largo mosaico cultural, que a disciplina soube nortear, levando-os a pensar, tal como Dirk Niepoort que “o mais importante, no vinho, é a paciência”. Barreto encontra, assim, as palavras-chave do discurso: paciência para o Vinho, disciplina para os Homens, de modo a desenvolver o Douro e a salvá-lo, como o “salvou em tempos de crise”. E, através de que sinais se tem manifestado a disciplina? Em que se traduziu? António Barreto, com a lucidez própria que o caracteriza, rebusca a História do Douro e, em toda elas, encontra actos disciplinadores.
Desde logo, na demarcação geográfica de 1756, operada por Marquês de Pombal, que Barreto considera “um gesto de autoridade, mas acto visionário”, até porque só os vinhos produzidos ali podem ostentar designações de Douro e Porto. Como “a defesas de um produto implica o seu carácter e este só se garante se estiver definida a sua origem e as suas características”, António Barreto opinou no sentido de olhar a demarcação como uma parte da disciplina e foi dizendo que o mesmo também se aplica na produção. Depois, considera que a disciplina também se fez sentir nas regras comerciais, com uma definição de produtos, de preços e de circuitos, bem como no estabelecimento de uma autoridade institucional, política e económica. Ouve, ainda, regras na associação entre o Estado, os produtores, os comerciantes e os interesses locai, que permitiu, a seu ver, “a perenidade da organização e acatamento, nem sempre pacífico, da disciplina imposta”.
Houve disciplina na delimitação da região, na enumeração dos produtores e propriedades, com respectivos cadastros, na definição de quantidades a produzir, de modo a “evitar as grandes crises de superprodução e de degradação dos preços” e, assim, surgiu o que vulgarmente se designa de “benefício”, segundo o qual se estabelece o montante anual de Vinho do Porto a produzir e as quantidades que cada lavrador pode produzir.
O léxico disciplina parece não mais esgotar-se, se centrado na História do Douro. Barreto realçou que, mesmo no estabelecimento de requisitos técnicos (como a proibição de adição de baga de sabugueiro para dar cor aos vinhos, a proibição de adubação e estrumação das vinhas, por exemplo, ou a obrigatoriedade e a recomendação de plantar certas castas) e na criação de órgãos e instituições capazes de garantir quer a autoridade pública, quer a representatividade dos lavradores e comerciantes, disciplina esteve presente ciclicamente. “Em todos os grandes ciclos da história portuguesa, do despotismo ao constitucionalismo, da monarquia liberal às tentativas de poder real duro, da república ao corporativismo, os poderes públicos interessaram-se seriamente pelo Douro”, organizando e disciplinando a Região. António Barreto fez questão de esclarecer que, mesmo em períodos mais liberais, “alguma disciplina existiu”.
Foram, pois, a disciplina e as regras que trouxeram até nós esta região e estes vinhos e que permitiu definir os produtos e as suas características.
Perante tal organização e disciplina, António Barreto lançou o desafio: seremos nós capazes de, em democracia, reorganizar, de actualizar, mas de manter uma disciplina condutora? Acatemos, pois, tal repto! Da sua magnífica intervenção no El Corte Inglês, que maravilhou o público presente, quais as conclusões a tirar? Em jeito de síntese, Barreto deixou bem vincado que “sem autoridade, sem disciplina, sem regras, não há Região Demarcada, não há origem denominada, não há produto típico e original (que tem características próprias, que tem carácter, que serve de referência, que é um padrão)”.
Na linha de pensamento de Barreto, as empresas e os lavradores têm feito, por eles próprios, muito do que antigamente se esperou das entidades públicas. E esse será o caminho a trilhar! Para os mais cépticos, Barreto diz que basta atentar nas “melhores notícias que chegam do Douro” e ver que as mesmas têm, geralmente, “os lavradores como protagonistas, não o Estado, nem as Instituições”.
Eis, a título exemplificativo, algumas dessa boas-novas: níveis de exportação interessantes; aumento dos vinhos de qualidade; projecção internacional dos vinhos de qualidade, tanto do Porto como do Douro; expansão de práticas mais rigorosas no cultivo das vinhas e no fabrico do vinho; crescimento dos produtores engarrafadores; a crescente fixação das empresas comerciais exportadoras, que adquiriam, já, quintas e vinhas; o Douro como Património Mundial.
Porém, ainda nem tudo são “rosas”... António Barreto finalizou o seu discurso, dando conta de aspectos menos positivos, lacunas que terão de ser (obrigatoriamente) corrigidas, sob pena de se enfraquecer este Douro, envolto do tal “espectro da mudança”.Assim, referente a aspectos críticos, temos:
a)O grau de concentração empresarial nos Vinhos do Porto. Cinco grupos representam 70% a 80% de todo o comércio;
b)O gradual desaparecimento de empresas portuguesas exportadoras de vinhos;
c)Os baixos preços praticados nos vinhos comuns de média e de baixa qualidade;
d)A existência de grandes massas de vinhos de qualidade deficiente;
e)A deficiente gestão e a difícil situação económica das adegas cooperativas e a, ainda, muito deficiente formação profissional e técnica dos pequenos lavradores e das adegas cooperativas;
f)A fraqueza da representação social dos lavradores do Douro, nomeadamente dos pequenos agricultores.
g)O aparente desinteresse das autoridades e dos governos;
Estas e outras lacunas, levam a que Barreto “aponte o dedo” às “responsabilidades das entidades públicas, seja como causa, sem como omissão de acção”. E, então, perante este cenário mais crítico, o que fazer? Arregaçar as mangas, certamente.
A receita para ultrapassar todos estes aspectos, que Barreto considera “críticos”, não a dá... Até por considerar não ser “seguramente quem mais sabe” . Mas, usando da diligência e da sapiência que o caracterizam, sente como crucial a “necessidade de as autoridades estabelecerem um novo contrato com o sector dos vinhos do Douro e do Porto”, que desenvolva “os interesses locais, as comunidades e as autarquias”. ( in notíciasdodouro )
Um comentário:
excelente texto este do "notícias do Douro", possuidor do sabor do vinho que nasce nas encostas.
paula e rui lima
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