segunda-feira, 4 de junho de 2007
Um País de Bufos e de Camaleões
Somos um país bizarro, castiço, peripatético. Por cada novo dia que chega mais exemplos destas «castas» que em nada abonam a coerência, a honradez, a nobreza de carácter daqueles que nos antecederam.
Criou-se o mito de que somos «um país de brandos costumes». Eu direi: talvez Portugal tenha sido isso e muito mais daquilo que enobreceu «a raça lusitana». Mas hoje não somos nada disso. Somos um país de vígaros, de bufos, de camaleões, de delatores, de oportunistas, de incoerentes, de néscios, de xico- espertos, de troca-tintas…
Todos estes adjectivos se aplicam a novos personagens, por cada dia que passa. Basta ler os jornais, ligar os televisores, escutar as rádios.
O caso mais badalado, nas últimas semanas foi «o saneamento político» de Fernando Charrua, um Professor Flaviense que trabalhou 19 anos na DREN, requisitado à Escola Secundária Carolina Michaelis, onde acaba de ser arrumado numa biblioteca, como se fosse um documento de arquivo. Pelos vistos cometeu o pecado mortal de ser eleito deputado pelo PSD. E, confiando num «amigo» de 15 anos, teve para com ele, em privado, um gracejo jocoso que teria a ver com a licenciatura de José Sócrates. Quem, neste país, não gracejou, em público e em privado, com esta situação académica que envolveu o nosso Primeiro Ministro? Logo esse «bufo» de nome António Basílio, foi bichanar à directora Regional, Margarida Moreira, uma sindicalista, educadora de infância com um curso de complemento, que, sem ouvir o visado, lhe moveu um processo disciplinar, punindo-o com a pior das sanções. Exorbitando das suas competências, deu-lhe por terminada a requisição. No fim de semana que se seguiu, foi profanado o seu posto de trabalho, incluindo o seu computador. Desde aí todo o mundo soube «o calvário» de Charrua. O governo defende-se com a conclusão do processo disciplinar. Os autores deste acto pidesco, continuam na sua fresca ribeira e o azarento professor, vai ter que custear encargos com advogados, viu a sua privacidade conspurcada e, com a carreira de «muito bom», convertida em medíocre.
Vai-se sabendo que a serviçal socialista já fez o mesmo a seis outros funcionários e que, tendo sido sindicalista, até já tentou boicotar o direito à greve aos seus subordinados.
Vi e ouvi Jorge Coelho, na «quadratura do circo» dizer que quem deveria ser punida era Margarida Moreira. E também Jorge Miranda, constitucionalista de mérito reconhecido, escreveu o mesmo. E tantos outros, mesmo socialistas, sentem o mesmo, só não o proferem, em voz alta, para que o partido não os marginalize.
Afinal, para quem acusava o salazarismo de ter posto um «bufo» em cada esquina, não mais tem moral para acusar essas práticas repugnantes do antigo regime.
E quanto aos camaleões o panorama não é mais arejado. José António Saraiva, no editorial do último Sol, é bem claro ao relatar a dupla Saldanha Sanches e José Miguel Júdice, com António Costa ao meio de ambos. Sanches foi a alma do MRPP, Júdice «foi acusado de ser filiado no MIRN, inscrevendo-se depois no PSD. Por essa altura – escreve o director do Sol – Saldanha Sanches, inspirado na postura de Júdice decretava «Morte aos fascistas». E também ele mereceu nas paredes das ruas: «Liberdade para Saldanha Sanches». Hoje, estão, lado a lado, na luta pela subida de António Costa à Câmara de Lisboa. E por isso pergunta J.A. Saraiva: «Mas quem é o verdadeiro Júdice: o da extrema-direita ou o mandatário do socialista António Costa? E quem é o verdadeiro Saldanha Sanches: o revolucionário com nome nas paredes ou o actual compagnon de route do PS?»
É certo que o actual governo está cheio de ex-comunistas: Isabel Pires de Lima, Mário Lino, José Magalhães…E também do CDS como (foi) Freitas do Amaral e Basílio Horta. E ainda o PSD, como Zita Seabra… E, não menos simbólico é exemplo de Helena Roseta que fez carreira política no PSD, depois no PS e, agora, como independente, a pensar numa coligação com o BE. É por essas e por outras que Pimenta Machado, outro falso «doutor», a contas com a justiça, inventou a teoria que assenta bem ao país que somos: «o que hoje é verdade, amanhã pode ser mentira».
Estes 33 anos de democracia demonstram que a verticalidade já não é o que era, a transparência tornou-se opaca e a honradez é, afinal, uma virtude que já deu o que tinha a dar. Com uma sociedade podre, com um índice de desemprego nunca tão elevado, com a fome generalizada, com a insegurança tão intensa, com a justiça tão deprimida, com as forças da autoridade tão desmoralizadas, como podem agarrar-se os cidadãos à auto-estima, ao passado histórico, ao orgulho de ser Português?
Por Barroso da Fonte, Dr. in noticiasdodouro
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Um comentário:
País de brandos costumes? Só na imagem de marca do doutor, o Salazar.
Diria antes, país de brandas, brandíssimas (apáticas?) reacções ao quotidiano.
Sobre a DREN, «Picturei» o assunto em causa. Se tiver pachorra, passe por lá. [Link]
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